Após matar cuidadora de idosos por ela se negar a beijá-lo, colega reclamou ao chefe que ela não tinha chegado para trabalhar, diz polícia
18/11/2024
Filho do casal disse em depoimento que encontrou Marcelo na casa bastante nervoso e proferindo xingamentos por ninguém o substituir no plantão. O laudo médico concluiu que Cintia foi morta por 'estrangulamento com fio elétrico'. Marcelo Junior Bastos Santos confessou que matou a cuidadora de idosos Cintia Ribeiro Barbosa, em Goiânia
Divulgação/Polícia Civil
Marcelo Junior Bastos, colega que confessou ter matado a cuidadora de idosos Cintia Ribeiro, de 38 anos, por ela se negar a beijá-lo, reclamou ao chefe que a mulher não tinha chegado para trabalhar. O diálogo é entre o suspeito do crime e um dos filhos do casal de idoso. O relato consta no inquérito concluído e enviado para a Justiça pela Polícia Civil de Goiás (PC-GO), na quinta-feira (14).
“O depoente ligou para o cuidador Marcelo questionando se Cintia não teria ido até a casa, pois o marido dela alegava ter a deixado na porta do trabalho, mas que Marcelo negou que Cintia estivesse indo naquela manhã na casa”, cita trecho do documento.
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Outro filho do casal de idosos, de 86 e 92, acrescentou à Polícia Civil de Goiás (PC-GO) que no dia 4 de novembro, por volta das 12h50, chegou na casa dos pais e foi surpreendido com um cuidador diferente no local. Ele lembrou que os pais estavam com comida, sem medicação e banho.
“Este cuidador estava extremamente nervoso e proferiu xingamentos, supostamente nervoso, pois ninguém teria ido o substituir”, narrou o homem.
A Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), por meio de nota, informou nesta segunda-feira (18), que seguirá sem comentar o caso (veja nota na íntegra ao final do texto).
O dono da empresa de cuidadores de idosos contou para a polícia que no dia 3 de novembro o cuidador oficial dos idosos comunicou que não poderia fazer o plantão naquela data, pois a avó dele teria falecido.
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No mesmo dia, segundo ele, passou a procurar outra pessoa para o substituir, quando entrou em contato com a companheira de Marcelo Junior. “Ela justificou que ele não poderia substituir o colega, pois estava de plantão até o dia seguinte”, revelou.
Assim, o proprietário teria conseguido outra mulher para ir para a casa dos idosos. No entanto, ele destaca que naquele final de semana precisou de atendimento hospitalar e ficou sem comunicação.
“Acreditando que tudo teria dado certo, que uma mulher passaria a noite com os pais do cliente”, cita no depoimento. Porém, na manhã do dia 4 de novembro, ao ligar o aparelho celular, ele tomou conhecimento de que Marcelo Junior entrou em contato com o colega e disse que estava disponível para ir passar a noite com o casal de idosos.
A partir disso, o colega teria entrado em contato com o filho do casal e informado a disponibilidade de Marcelo em cobrir o plantão. O empresário salientou que acredita que como o homem já havia prestado serviços para a família e conhecia a rotina da casa, a família optou por ele.
“Assim, acabaram por dispensar a mulher que inclusive já estava se deslocando para o local”, finalizou o dono da empresa de cuidadores de idosos.
Entenda o crime
Marcelo Junior Bastos Santos após cometer feminicídio, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
O lado da Polícia Técnico-Científica concluiu que a morte de Cintia ocorreu por asfixia mecânica. “O exame necroscópico ainda constatou na vítima sinais de estrangulamento com fio elétrico, além de lesões causadas por meio de ação contundente na cabeça, face, membros superiores e em tronco. Não houve constatação de lesões em órgãos genitais externos”, escreveu o perito.
Marcelo Junior confessou em depoimento que matou sua colega de trabalho, Cintia Ribeiro, na casa dos idosos, em Goiânia, após ela recusar um beijo dele e lhe dar um tapa no rosto.
Para a polícia, ele contou que estrangulou a vítima com golpes de mata-leão, mas ela apenas tinha desmaiado e tentou fugir, quando retornou à consciência e percebeu que o agressor estava em outro cômodo da casa.
Entretanto, Marcelo relatou que a alcançou novamente e finalizou o crime enrolando fita crepe no pescoço de Cintia. Após o assassinato, ele detalhou como jogou o corpo em um lote vizinho. Horas depois, conforme a polícia, chegou uma fonoaudióloga à casa. Ela contou que também foi assediada pelo homem.
“Ela relatou que quando entrou na casa por volta de 11 horas, a Cintia já não estava mais, ou seja, ele já tinha matado e ocultado o cadáver. Ela chegou a ser assediada sexualmente ali pelo Marcelo, que fez comentários inoportunos sobre as roupas dela”, afirmou o delegado responsável pelo caso, Carlos Alfama.
Sobre este suposto crime, o delegado declarou que Marcelo não é investigado pelo assédio contra a fonoaudióloga. O motivo, de acordo com ele, é que a profissional não fez registrou denúncia contra ele. Caso tivesse registrado a ocorrência, Marcelo também poderia responder por importunação sexual.
Para Alfama, Marcelo é “frio e não demonstrou qualquer arrependimento” do crime. Conforme a PC-GO, o homem deve responder por quatro crimes, que foram detalhados no inquérito encaminhado ao tribunal de Justiça.
"Ele matou a vítima estrangulada, isso gera o crime de feminicídio. Foi também indiciado por tentativa de estupro, que ele mesmo relata que tentou beijar a vítima à força. Responde também pela ocultação do cadáver em um lote vizinho, e também pelo furto das alianças e do anel de noivado da vítima, encontrados dentro da carteira dele", disse o delegado Carlos Alfama.
Mãe e esposa
A cuidadora de idosos Cintia Ribeiro era mãe de quatro filhos, dois adultos e dois menores de idade, um rapaz de 16 e uma moça de 12 anos, que moravam com ela e o marido, o construtor Nathanael da Silva, de 50 anos. Em entrevista ao g1, Nathanael descreve como era a mulher, que conhecia a mais de dois anos e estava cassado a apenas oito dias.
“Foi uma joia rara na minha vida. Cintia era uma pessoa exemplar, uma companheira que eu desejava por muitos anos na minha vida. Tudo ela compartilhava comigo, era sincera, uma pessoa maravilhosa”, descreveu a esposa, Nathanael ao g1.
Investigação
O caso do desaparecimento de Cintia começou a ser investigado pela delegada Lara Soares, da Central de Flagrantes de Goiânia, após registro feito pelo marido, Nathanael da Silva. Na ocasião, ele relatou ter deixado a esposa no trabalho, mas ela não voltou para casa e nem atendia o celular.
Posteriormente, surgiram indícios de crime no local de trabalho do casal, o levou a Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH) a assumir o caso. No terreno da casa, segundo a polícia, foi encontrado terra remexida e sugeriu uma tentativa de ocultar o corpo; e sinais de interferência na cerca elétrica.
As investigações concluíram que Marcelo, que confessou o crime, tentou enterrar o corpo de Cintia no quintal, mas não conseguiu. Ele então usou uma cadeira para jogar o corpo por cima do muro. Em depoimento, Marcelo revelou ter estrangulado a vítima com um golpe de mata-leão, o que teria causado asfixia e perda de consciência. A polícia descartou o envolvimento de terceiros.
Íntegra da nota da DPE-GO
A Defensoria Pública do Estado de Goiás informa que representou o acusado durante a audiência de custódia, cumprindo seu dever legal e constitucional de garantir a defesa de pessoas que não tenham condições de pagar por um profissional particular e não comentará sobre o caso. Destaca ainda que após a audiência de custódia, deverá ser iniciado o processo criminal e será oportunizado prazo para o acusado constituir sua defesa que poderá ser realizada pela Defensoria Pública ou por um profissional particular.
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