Colega que confessou ter matado cuidadora de idosos por ela se negar a beijá-lo deixou pacientes sem comida, remédios e banho no dia do crime, diz polícia
17/11/2024
Filho do casal contou em depoimento que chegou na casa e se deparou com Marcelo bastante nervoso. Para a polícia, o suspeito confessou que matou Cintia Ribeiro usando uma fita crepe para estrangulá-la. Marcelo Junior Bastos Santos é suspeito de matar Cintia Ribeiro Barbosa, em Goiânia
Divulgação/Polícia Civil
O colega que confessou ter matado a cuidadora de idosos Cintia Ribeiro, de 38 anos, por ela se negar a beijá-lo, deixou os dois pacientes com fome, sem remédios e banho no dia do crime. Esse relato é do filho do casal de idosos e consta no inquérito concluído e enviado para a Justiça pela Polícia Civil de Goiás (PC-GO), na quinta-feira (14).
“O depoente chegou na casa dos pais e para a sua surpresa deparou- se com um cuidador diferente na residência enquanto quem deveria estar no local seria a Cintia... Que o depoente ligou para sua irmã pedindo ajuda para cuidar dos pais, pois eles ainda estavam sem tomar banho, sem comer e sem tomar os remédios”, cita trecho do inquérito assinado pelo delegado Carlos Alfama.
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Ao g1, a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), por meio de nota, informou neste domingo (17), que não comentará sobre o caso (veja nota na íntegra ao final do texto).
A testemunha emendou que encontrou o suspeito “extremamente nervoso e proferiu xingamentos”. Outro filho dos pacientes informou para a polícia que seus pais, além de idosos, são cadeirantes e necessitam de cuidados constantes. Segundo ele, por isso, os dois recebem assistência de cuidadores contratados por uma empresa especializada.
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O homem narra que o outro cuidador oficial era escalado para o turno das 18h, aos finais de semana, mas se ausentou devido a um falecimento na família. Assim, a empresa enviou Marcelo como substituto, que chegou às 19h46, no domingo (3 de novembro). No entanto, conforme ele, o funcionário já teria trabalhado na residência em outras ocasiões.
O filho do casal lembra que Cintia trabalhava para a família há seis anos. De acordo com ele, a escala de trabalho dela era às segundas, quartas e sextas-feiras, das 8h às 16h.
À polícia, o cuidador de idosos que revezava os cuidados do casal com Cintia, há cerca de 1 ano 3 meses, disse que conheceu Marcelo há cerca de 2 meses. Ele recordou que chegou a fazer quatro trocas de plantão com o colega, em outros serviços.
Marcelo confessou o crime
Marcelo Junior Bastos Santos após cometer feminicídio
Reprodução/TV Anhanguera
Em depoimento, Marcelo Junio confessou ter matado sua colega de trabalho, Cintia Ribeiro, em uma casa no Setor Cidade Jardim, em Goiânia, após ela rejeitar um beijo dele. À polícia ele disse que estrangulou a vítima com golpes de mata-leão e finalizou o ato com fita crepe usada no trabalho. Após isso, jogou o corpo em um lote vizinho. Horas depois, conforme a polícia, chegou uma fonoaudióloga à casa. Ela contou que também foi assediada pelo homem.
“Ela relatou que quando entrou na casa por volta de 11 horas, a Cintia já não estava mais, ou seja, ele já tinha matado e ocultado o cadáver. Ela chegou a ser assediada sexualmente ali pelo Marcelo, que fez comentários inoportunos sobre as roupas dela”, afirmou Carlos Alfama.
Alfama ressaltou que Marcelo não será investigado pelo assédio contra a fonoaudióloga. O motivo para isso, de acordo com a polícia, é que a mulher não fez nenhuma denúncia contra ele por conta do suposto crime. Caso tivesse registrado a ocorrência, ele poderia responder ainda por importunação sexual.
O delegado descreveu Marcelo como frio e sem demonstrar qualquer arrependimento. Segundo a PC-GO, Marcelo e Cintia chegaram a trabalhar juntos por dois dias na casa do casal de pacientes. O delegado ressalta que o homem deve responder por quatro crimes.
"Ele matou a vítima estrangulada, isso gera o crime de feminicídio. Foi também indiciado por tentativa de estupro, que ele mesmo relata que tentou beijar a vítima à força. Responde também pela ocultação do cadáver em um lote vizinho, e também pelo furto das alianças e do anel de noivado da vítima, encontrados dentro da carteira dele", disse o delegado Carlos Alfama.
Resumo: Marcelo foi indiciado pelos seguintes crimes:
Feminicídio majorado pelo emprego de asfixia
Ocultação de cadáver
Tentativa de estupro
Furto simples
Investigação
O caso começou a ser investigado como desaparecimento pela delegada Lara Soares, da Central de Flagrantes. O registro de sumiço de Cintia foi feito pelo marido dela, o construtor Nathanael da Silva, de 50 anos. O construtor relatou ter deixado a esposa no trabalho, mas ela não retornou para casa e nem atendia o celular.
Quando houve indícios de crime no local de trabalho dos dois, o caso passou a ser investigado pela Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH). Inicialmente, conforme Carlos Alfama, foi encontrado terra remexida no quintal, a suspeita era que Marcelo tentou enterrou o corpo, e a cerca elétrica repuxada.
Segundo o delegado, Marcelo jogou o corpo de Cintia por cima do muro, depois de não conseguir enterrá-lo no quintal da casa onde a mulher trabalhava. Foi concluído que o indiciado agiu sozinho, com o apoio de uma cadeira, para jogar o corpo.
Em depoimento à polícia, Marcelo confessou que estrangulou Cintia com um golpe de mata-leão, que é quando se coloca os braços em volta do pescoço da vítima, pelas costas, até provocar a asfixia e perda de consciência.
O delegado contou que Marcelo foi atrás de Cintia e desferiu um novo mata-leão. Em seguida, com a fita crepe usada para prender as fraldas dos idosos, ele a enforcou novamente.
“Ele estrangulou a vítima com o mata-leão, achou que ela já tinha morrido e saiu para um outro cômodo. De repente, ele percebeu que ela retomou a consciência e tentou fugir”, narrou Carlos Alfama.
Mãe de quatro filhos
Cintia era mãe de quatro filhos, dois adultos e dois menores de idade. Nathanael da Silva, em entrevista ao g1, revelou que eles se cansaram 10 dias antes do crime.
“Namoramos um tempo, depois ela veio morar comigo na minha casa. Recentemente, decidimos nos casar, pois nossa religião [evangélica] não permitia vivermos naquela situação”, destacou o marido.
Ao ir morar com Nathanael, Cintia levou os adolescentes, um rapaz de 16 e uma moça de 12 anos. “Como não tínhamos filhos juntos, os filhos dela eram os meus filhos e os meus eram os filhos dela”, descreveu o esposo sobre à relação que mantinha com a cuidadora de idosos.
“Foi uma joia rara na minha vida. Cintia era uma pessoa exemplar, uma companheira que eu desejava por muitos anos na minha vida. Tudo ela compartilhava comigo, era sincera, uma pessoa maravilhosa”, descreveu a esposa, Nathanael ao g1.
Íntegra da nota da DPE-GO
A Defensoria Pública do Estado de Goiás informa que representou o acusado durante a audiência de custódia, cumprindo seu dever legal e constitucional de garantir a defesa de pessoas que não tenham condições de pagar por um profissional particular e não comentará sobre o caso. Destaca ainda que após a audiência de custódia, deverá ser iniciado o processo criminal e será oportunizado prazo para o acusado constituir sua defesa que poderá ser realizada pela Defensoria Pública ou por um profissional particular.
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